21 de nov. de 2010

Fosforescência

Não reconheço esses castelos
donde supões tantos desejos
não legitimo a realeza

Só reconheço o sonho bom
quando você dorme em mim
sou eu seu palacete, minha alteza

Não vejo no raiar do dia
tamanho brilho nem clarão
maior que nossa luz: fosforescente

Toda paisagem no mundo
bem sei, vem duma ilusão
do belo estar fora da gente



Passe(i)ata

A vanguarda, cansada
guarda a alma

numa caixa bem guardada
sob a guarda da calma

Tanta gente indignada
cada qual faz sua cama

cobrindo-se com véus de nada
entre lençóis de inerte chama

Do fogo saem conservadas
de seu grito ninguém reclama

de tal sociedade que, alarmada
ainda se porta como dama



Solo

Meu caminho individual
tem que ser bem traçado
e foi difícil aprender
a fazer este desenhado
tentando superar você
pra não ter que te admirar
descobrir qual é meu sonho
pra do teu me desligar

Descobrindo que até sou bela
embora uma flor comum
cumprindo a missão singela
de florescer pra amor nenhum

Mas no tempo do coração
logo, logo bate o convite
para que após a batalha
outro amor nele palpite

Coração é solo fértil
para a flor que era triste
e desabrocha bem mais bela
quando o amor nela insiste



Banho de mar

A onda do mar
tanta história tem pra contar
tantos carinhos
tantos naufrágios de amor
vão nela se banhar

Ai onda do mar
venha logo me acariciar
tem tanto sal
de tanta lágrima rolar
vão nela se juntar

Oi onda do mar
que vai e logo se vê voltar
tantos amores
que com seu jeito ondular
vão se identificar

Ei onda do mar
pondo amantes a balançar
tantos romances
declarados ao teu luar
vão pra ela abençoar

Na onda do mar
mergulhar no amor e descobrir
que não tem mais onde
nessa maré se segurar
à deriva do amar


Sem razão

Amiga, noiva, irmão
filha, hora de acordar
Você mal abre os olhos
e já tem alguém pra amar

Cada pessoa ao nascer
é um novo raiar pro dia
neste velho recomeço
de uma nova sinfonia

Desespero em viver?
Não saber o que esperar
Você mal chega ao mundo
e tem um preço a pagar

Mas em segundos, dias correm
A vida dança a melodia
recebendo ou se entregando
na mesma coreografia

  Não explique o amor
  Nem explique o perdão
  A razão de eu te querer
  é não ser por razão

  Não entenda o amor
  nem receita ou instrução
  A razão de eu te beijar
  é ser de tão bom...


Flutuar

Seu olho para no meu
desnudando os meus erros
sorriso mal amadureceu
e vem o arrepio nos pelos
mal consigo me lembrar
sequer penteei os cabelos

Se você souber que eu viro
um astronauta meio perdido
no espaço, desvendando
o sideral do teu umbigo
e só por navegar seu rosto
fico desprotegido

Se você me flagrar caindo
em seu corpo movediço
foi culpa daquele olhar
certeiro, sem improviso
que me afunda devagar
doce, lento, leve e liso

Posso não mais saber voltar
desse seu mágico abismo
da violenta felicidade
levei um soco preciso
que me afogou no sangue saído
da veia do paraíso

Até virar canção

Nos deixamos ficar por ali mesmo
onde o caminho nos parou
juntando rimas no selar do beijo
e por trás do vidro chuva se afinou
arranjo som de mar e relampejo
quase amar é ensaiar com o desejo

Notas da ventania e acordes temporais
nossa partitura
Perguntamos, pelas tantas, que falta faz,
onde andaria a lua?
astro maior da poesia, que dirás
a minha e sua
a noite abandonou

Mas eis que nasce o Sol
nas claves da melodia
que acompanhou,
nos brilhou brilhou brilhou brilhou!